Com uma rápida olhada ao redor, percebemos que os reagentes para hematologia veterinária podem surgir de diversas formas. Há os originais (da mesma fabricante do equipamento), os similares (também conhecidos como paralelos ou inspirados) e também os que são para uso no diagnóstico humano (originais e paralelos). Uma dúvida recorrente dos médicos veterinários e, principalmente, dos patologistas clínicos veterinários é sobre a vasta opção de reagentes disponíveis no mercado.
Afinal, a composição dos reagentes paralelos é a mesma dos originais? A qualidade das matérias primas é a mesma? Existe, então, diferenças entre reagentes para uso humano e para uso veterinário? Existe algum risco se eu utilizar reagentes para uso humano no diagnóstico veterinário?
As perguntas são inúmeras e importantíssimas, afinal estamos falando de diagnóstico e da saúde animal. Logo, não podemos negligenciar o valor dessas vidas ao não nos importarmos com a qualidade dos seus hemogramas. Antes de falarmos sobre os reagentes para hematologia veterinária mais propriamente, vamos revisar um pouco sobre o funcionamento dos analisadores hematológicos (veja aqui como funcionam as tecnologias de análise).
Conhecendo a engenharia dos analisadores hematológicos
Todos os equipamentos de hematologia (3, 4 ou 5 partes, e de qualquer marca ou modelo) utilizam necessariamente a tecnologia de impedância elétrica. Explicando-a: o equipamento gera um pulso elétrico contínuo e, no momento em que as células passam à frente desse pulso, eclipsando-o, são quantificadas. É esta tecnologia que permite contar os leucócitos, hemácias e plaquetas e também, através da intensidade do pulso elétrico, determinar o seu tamanho.
Após a aspiração da amostra, o equipamento divide o sangue em duas partes. A primeira alíquota da amostra é colocada na câmera de diluição para a contagem das hemácias, que têm tamanho maior que as outras células sanguíneas. A segunda fração da amostra, na sequência, é colocada na câmera de diluição com o lisante. O objetivo desta segunda diluição é lisar as hemácias para que o equipamento possa quantificar a hemoglobina e contar os leucócitos.
Os lisantes
Talvez, entre os reagentes para hematologia veterinária, este seja o de mais importante consideração. Isto porque caso o lisante não seja o adequado, ele não provocará a ruptura das hemácias, o que traz consequências significativas. Para citar algumas, ao não serem lisadas, essas células serão agrupadas e quantificadas como sendo de outro grupo celular (causando diminuição de sua contagem e aumento na de outras células). Outro resultado disso está na dosagem da hemoglobina, já que boa parte dela não seria considerada na análise.
A partir desse ponto precisamos relembrar sobre a fisiologia das células sanguíneas de animais, que são bem diferentes das células sanguíneas humanas. As hemácias são medidas em fentolítros que é uma unidade de volume igual a 10 ⁻¹⁵ ou 1 micrômetro cúbico (µm³).
As hemácias humanas têm um volume corpuscular médio de 80 a 100 fL. Nos animais, o volume corpuscular médio é muito variável. Cães têm volume corpuscular médio de 60 a 77 fL, gatos entre 30 e 55 fL, caprinos de 15 a 30 fL e assim por diante.
Vale a pena reforçar, inclusive, a importância de se usar um equipamento verdadeiramente veterinário – ou seja: que possua canais separados por espécie, como todos os da linha BC, da Mindray. Estes canais únicos vão determinar o volume de lisante/diluente e o tempo de incubação para que assim a lise das hemácias seja perfeita e a contagem e determinação de todos os parâmetros seja real.
E os lisantes humanos?
Algumas pessoas têm dúvidas sobre a utilização dos reagentes humanos, mesmo que originais. Quanto a isto, a única coisa que pode realmente ser garantida, é a qualidade das matérias primas e da composição química do insumo. Já os resultados devem apresentar alteração pelos motivos já citados acima.
Lisantes humanos foram feitos para romper hemácias humanas com seu fentolitro específico. Da mesma forma, seu tempo e volume são adequados para a espessura da hemácia humana.
É comum o argumento de que se é possível adaptar ou realizar algum tipo de calibração no equipamento em busca de resultados confiáveis ao se utilizar reagentes humanos. Porém, diversos erros podem acabar acontecendo por conta disso. Aumentando o tempo ou o volume do lisante observamos falhas na contagem de leucócitos (que também acabam sendo lisados) e a diminuição, por consequência, leva ao erro na dosagem de hemoglobina, contagem de hemácias e plaquetas. Um problemão, especialmente se considerarmos as necessidades específicas por espécie.
Vale a pena lembrar que os equipamentos não lançarão nenhum tipo de alerta sobre os reagentes que ele processa para confeccionar os exames e, desta forma, ele realizará o procedimento normalmente e o resultado aparecerá como qualquer outro. Isto tudo gera uma falsa impressão de segurança na qualidade do exame.
A formulação dos reagentes
Outro fator que induz erros é a análise da formulação dos reagentes originais, dos humanos e dos paralelos. Isto faz com que pareça que essas três categorias de produtos não se diferem muito, o que é um grande engano.
Comumente, apenas os itens em maior proporção são descritos. Isto porque, apoiados pela mesma determinação que recai sobre os medicamentos, os fabricantes de reagentes não são obrigados a descrever toda a fórmula dos seus produtos (e, assim, permitir que a concorrência comece a produzir cópias quase perfeitas dos seus produtos).
Para se citar alguns, os componentes ligados a manutenção, limpeza e conservação do equipamento não são citados em bula.
Reagentes para hematologia veterinária paralelos
Por não terem a fórmula completa, os fabricantes de reagentes paralelos misturam os componentes realizando suas adaptações em busca de chegar o mais próximo possível da inspiração. Isto causa erros de quantidade, de proporções e de inexistência de componentes em uma fórmula que deveria possui-lo.
Desta forma, trazemos um exemplo bastante prático desta situação: o cloreto de tetrametilamônio é um componente usado na maioria dos lisantes para uso veterinário e humano. Se utilizado em proporções erradas ou for de baixa qualidade, ele promove viscosidade ao reagente, em especial aos que ficam em baixas temperaturas.
Um dos motivos de chamado técnico mais comuns do segmento nos
mostra equipamentos que possuem uma espécie de “pasta” viscosa nas tubulações
internas, o que não acontece quando se usa reagentes originais.
Ainda sobre o aspecto técnico, alguns dos componentes não citados nas fórmulas
dos reagentes similares causam ressecamento das válvulas solenoides e das
tubulações internas, dentre outros. As peças têm um desgaste muito maior, o
equipamento tem mais vazamentos e mais gastos de manutenção. Outras
consequências são erros de leitura e dificuldade na realização do background,
para se citar alguns.
Controle de Qualidade na Fabricação
Além da composição desses insumos, precisamos lembrar do controle de qualidade de matérias primas, processo de fabricação e rastreabilidade que os reagentes para hematologia veterinária originais têm.
São reagentes distribuídos em todo o mundo e utilizados em laboratórios com condições diversas. É uma grande responsabilidade produzir um reagente com grandes volumes e ampla distribuição, e o resultado disso é um controle de qualidade muito rígido pelas agências reguladoras locais e internacionais. Tudo tem que ser impecável e atingir índices altíssimos de satisfação e qualidade.
Por esta razão, é praxe de todo manual de utilização dos analisadores hematológicos: apenas os reagentes da própria fabricante podem garantir os resultados de excelência do equipamento, afinal toda pesquisa e desenvolvimento, testes e validações foram feitos desta forma.
Para que você não tenha dúvida se o seu reagente é o que vai maximizar a vida útil do seu equipamento e trazer os resultados com a qualidade esperada e garantida, verifique no manual do usuário qual a especificação exata sobre os reagentes.
Então agora você já sabe. Reagente veterinário original não é igual a reagente humano nem a reagente paralelo. Apenas um deles garante pleno funcionamento do equipamento, máxima acurácia nos resultados e plena valorização dos pacientes: o recomendado pela fabricante.
Para fecharmos, fica uma última dica: verifique junto à empresa com a qual você esteja negociando ou tenha comprado o seu equipamento se eles fornecem os reagentes da fabricante. Isto fará toda a diferença no seu diagnóstico, que terá mais qualidade, e no seu negócio, que terá um equipamento rodando por muito mais tempo e com muito menos chamados técnicos ; ).
Fale de diagnóstico com quem mais entende! Chame a nossa equipe e tire suas dúvidas sobre insumos, modelos e tecnologias.
Até a próxima!