Urinálise Veterinária

Principais parâmetros na urinálise veterinária – II

Dando continuidade ao nosso especial sobre urinálise veterinária, que já conta com um olhar geral sobre a técnica, as melhores práticas para um exame perfeito e também um explicativo sobre seus principais parâmetros (parte 1), chegamos ao nosso penúltimo blog post. Veremos, a partir de agora, o restante dos parâmetros bioquímicos mais importantes em sua análise química. Preparados?

Vale a pena lembrar que a base deste estudo foi realizada tendo como consideração principal o uso associado de tiras para urinálise + equipamento automatizado para leitura de tiras, técnica ouro para este tipo de análise. Vamos começar?

Os parâmetros da urinálise veterinária (continuação)

Proteína

A urina normalmente não contém proteína. Isto porque as proteínas de baixo peso molecular são reabsorvidas pelos túbulos, enquanto as de alto peso molecular, em condições normais, não ultrapassam o filtro glomerular.

No entanto, quando ocorrem na urina, a presença pode ser de origem pré-renal, renal ou pós-renal (quando persistente), ou fisiológica (esforço muscular, estresse, uso de medicamentos) quando transitória.

A presença de proteína na urina deve ser sempre bem investigada, pois é um parâmetro importante e tardio na detecção da doença real.  É importante considerar que as tiras de urina são mais sensíveis para a albumina e reagem pouco com as globulinas. Da mesma forma, um pH elevado (acima de 9) pode afetar o teste.

Atenção: os resíduos de desinfetantes que contêm grupos quaternários de amônio ou clorexidina podem levar a um resultado falso positivo.

pH

O pH é a determinação da concentração de íons hidrogênio e está intimamente ligado ao mecanismo de equilíbrio ácido-básico do organismo. Desta forma, é de suma importância o processamento da urina o mais rápido possível para evitarmos a modificação do pH após a coleta.

Densidade

Este parâmetro determina a concentração de solutos na urina e verifica a capacidade dos túbulos renais de concentrar ou diluir o filtrado glomerular.

A densidade pode ser alterada por diversas doenças ou mesmo pela ingestão ou não de água. Por esse motivo deve ser avaliada junto com os outros parâmetros e com os sinais clínicos do animal.

As tiras de urina utilizam um reagente que indica a presença de constituintes iônicos na urina, modificando assim a sua cor. Em geral, ele se correlaciona dentro de 0,010 com os valores obtidos com o método do índice de refração. O método mais adequado para a determinação da densidade da urina é o refratômetro.

Hemoglobina

A presença de hemoglobina na urina deve ser associada a avaliação do sedimento urinário. As fitas de urina utilizam um indicador altamente sensível a hemoglobina e mioglobina e o resultado positivo é forte indicativo destas substâncias.

Sendo assim, podemos encontrar hemoglobina na urina nos casos de hematúria ou hemoglobinúria (hemólise intravascular: anemias hemolíticas, reações transfusionais, babesia, leptospirose, envenenamento, queimaduras severas, dentre outros).

Também é comum encontrarmos a hemoglobina positiva na fita de urina e ausência de hemácias no sedimento urinário (devido a hemólise dos eritrócitos e liberação da hemoglobina na amostra).

É importante frisar que a sensibilidade deste teste pode ser reduzida na urina com alta densidade, com a utilização de alguns medicamentos (captopril e lodine) e também em altas concentrações de ácido ascórbico.

Quanto a uma reação falso-positiva, o hipoclorito e a peroxidase bacteriana associada a infecção do trato urinário podem ser causadores.

Ácido Ascórbico

O ácido ascórbico está presente em algumas fitas de urina e é importantíssimo para determinarmos a reatividade de outros testes. Isto porque ácido ascórbico em alta concentração na urina pode alterar os resultados da glicose, hemoglobina, bilirrubina e nitrito causando resultados falso negativos.

É, portanto, um parâmetro imprescindível como controle destes testes. Caso o ácido ascórbico dê positivo na tira de urina, outros métodos devem ser usados para a determinação da glicose, hemoglobina, bilirrubina e nitrito caso estes parâmetros estejam dentro da normalidade.

Microalbumina

A microalbumina é um dos parâmetros mais importantes para auxiliar no diagnóstico, monitoramento e prognóstico de doenças renais. Ela tem menor peso molecular e a maior sensibilidade se comparada com a albumina e as globulinas.

Diferentemente da proteína total (albumina e globulina), que necessita de uma extensa lesão renal para ser excretada na urina, a microalbumina pode ser eliminada com cerca de 10% de danos somente.

Cálcio

Ele é um dos minerais mais importantes para o funcionamento adequado da contração muscular, condução nervosa, liberação de hormônios e coagulação sanguínea.

Sua manutenção no organismo está diretamente relacionada com a ingestão, absorção no trato gastrointestinal e com a excreção renal. Encontramos valores aumentados de cálcio na urina em nefropatias avançadas, alterações hormonais, digestivas e ósseas.

Valores baixos para este parâmetro podem ser observados em doenças renais crônicas, deficiências nutricionais, alterações hormonais, dentre outras. Quanto a possíveis alterações no teste, altas concentrações de íons magnésio na urina podem afetar o teste.

Creatitina

A creatinina urinária é um parâmetro importante na determinação do diagnóstico e progressão de boa parte das doenças renais de cães e gatos. A alteração de valores, principalmente na urina, associados a excreção de proteína/microalbumina auxiliam na caracterização da disfunção renal.

Devemos considerar que a dosagem de creatinina e proteína urinária pela metodologia de bioquímica úmida é a forma ideal de especificar a  relação proteína/creatinina, por nos fornecer valores absolutos.

No entanto, a determinação da creatinina e microalbumina urinária nas fitas pode assessorar o diagnóstico e a evolução das doenças renais de forma rápida e prática. Alguns compostos, propriedades físicas e pigmentos amarelos de alta concentração podem afetar o resultado do teste da fita de urina.

Concluindo…

A avaliação química é, possivelmente, a técnica de análise de urina que mais traz respostas sobre a saúde de um paciente. Como observamos acima e também no primeiro post da série, existem diversos fatores a serem considerados, como possíveis alterações, falsos-positivos e conflitos de informações, entre outros.

Porém, com a prática, rapidamente se treina o olhar para esses pontos e a análise dos resultados se torna ainda mais precisa e profissional! Conte sempre conosco como uma grande parceira para seu diagnóstico.

Não deixe de compartilhar todas as dicas que já apresentamos até agora acerca deste importante braço do diagnóstico in vitro, que é a urinálise.

Em nosso próximo post abordaremos as particularidades, prós e contras de uma urinálise feita apenas com tiras e uma feita com a junção de tiras + equipamento para análise de tiras. Até lá!

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