Se antigamente um dos maiores motivos para a dosagem de eletrólitos na medicina veterinária ser tão escassa eram os analisadores em si (caros, complexos e trabalhosos), hoje em dia estes problemas não mais existem. Sódio, potássio e cálcio, entre outros, podem ser dosados em apenas dois passos e em testes de baixíssimo custo em equipamentos como o EC 90, uma das estrelas do nosso portfólio.
Agora, com ferramentas potentes e acessíveis à disposição, não há mais motivos para não realizar este, que pode ser um dos testes mais definitivos em uma rotina clínica. Com o objetivo de preparar o diagnóstico nacional para confecção e interpretação profissionais destes testes, preparamos um especial sobre eletrólitos que já conta com dois artigos: um acerca de conceitos essenciais e outro sobre o sódio.
Hoje daremos continuidade à série ao apresentar um pouco mais sobre a importância fisiológica do potássio. Prontos? Vamos lá!
Potássio: um eletrólito essencial
Ele é o principal cátion e está presente em maior concentração nos líquidos intracelulares (95%). É também responsável pela manutenção do volume e osmolaridade intracelulares e pelo potencial de membrana que, por sua vez, influencia importantes processos celulares, como a condução de impulsos nervosos e a contração das células musculares.
As concentrações intracelulares de potássio e extracelulares de sódio são mantidas pela famosa bomba de sódio-potássio, de forma ativa. Falando nela, é função da bomba levar o potássio para o interior das células e o sódio para o exterior.
A regulação da sua concentração plasmática é feita principalmente pelo rim e a aldosterona participa ativamente deste processo. Além disso, o potássio é importantíssimo no equilíbrio ácido-básico fisiológico.
Destrinchando um pouco mais, em condições fisiológicas normais os rins excretam os íons H e reabsorvem o bicarbonato. Quando não há a excreção adequada dos íons H, eles se acumulam no sangue provocando acidose.
O potássio é trocado com o hidrogênio na tentativa de compensar a acidose metabólica. A insulina também exerce um importante papel no metabolismo deste eletrólito: ela o move para dentro da célula diminuindo as concentrações plasmáticas. Do mesmo modo, baixas concentrações de insulina o movem para fora da célula aumentando sua concentração plasmática.
Metabolização do potássio
Quando ingerido em excesso, ele é eliminado na urina, em cerca de 50%, nas horas seguintes. Os outros 50% excedentes são transferidos para dentro da célula para minimizar a elevação do potássio no sangue.
Caso a ingestão de potássio continue elevada, a aldosterona é estimulada e a excreção renal de potássio aumenta.
Na outra mão, quando sua ingestão diminui, o potássio intracelular, que funciona como uma reserva, é acionado. Vale falar, no entanto, que sua conservação no rim é mais lenta em comparação à redução da ingestão e absorção do potássio alimentar e é menos eficiente que a retenção do sódio pelos rins.
Por este motivo, a deficiência de potássio pode trazer problemas clínicos de forma rápida e grave.
Consequências da descompensação do potássio no organismo
Quando o consumo e/ou a perda de potássio não estão equilibrados, a concentração sanguínea se altera e teremos:
Concentrações baixas => hipocalemia ou hipopotassemia
Concentrações altas => hipercalemia ou hiperpotassemia
Hipocalemia ou hipopotassemia
A hipocalemia é uma das alterações de eletrólitos mais comuns em pequenos animais. É uma condição comum na ingestão insuficiente de potássio, perda excessiva ou redistribuição extracelular.
Sendo assim a hipocalemia pode advir da má nutrição e de diversos processos de tratamento, com medicamentos que alteram o metabolismo do potássio, além de doenças adjacentes.
Perdas excessivas são comuns nas diarreias, vômitos e poliúria. Nos casos de diarreias e vômitos, quando a fluidoterapia feita é pobre em potássio, a hipocalemia pode ser bastante agravada.
As doenças que causam alcalose metabólica (vômitos e diarreias por exemplo) também provocam a hipocalemia pelo deslocamento do potássio de dentro da célula para fora da célula com o objetivo de neutralizar os íons de hidrogênio).
A hipocalemia é mais comum na alcalose metabólica do que na alcalose respiratória. No entanto, em casos de dor extrema, cirrose hepática e febre, por exemplo, que provocam hiperventilação e consequentemente alcalose respiratória, podemos encontrar baixa concentração de potássio no sangue.
Os distúrbios da glândula adrenal alteram seus níveis no sangue por uma produção excessiva de aldosterona, que faz com que os rins excretem grandes quantidades deste íon na urina.
Alguns medicamentos alteram o metabolismo e a excreção do potássio. Os diuréticos aumentam a sua excreção e a insulina desloca o potássio sérico para dentro da célula. Ambos causam hipocalemia e os animais em tratamento com estas drogas devem ter seus eletrólitos monitorados.
O uso excessivo de glicose intravenosa estimula a liberação de insulina e, consequentemente, a queda do potássio sanguíneo.
Os sinais clínicos mais comuns são fraqueza muscular, poliúria, polidipsia, anorexia, arritmia cardíaca (algumas das alterações no eletrocardiograma são aumento da amplitude da onda R e achatamento da onda T), ventroflexão do pescoço em gatos, alterações na musculatura lisa (paralisia intestinal) e letargia.
Hipercalemia ou hiperpotassemia
A hipercalemia é aumento plasmático do potássio, e está relacionada diretamente à sua excreção e a redistribuição intra e extracelular.
A hipercalemia é uma indicadora da severidade da acidose. Quando o rim não consegue excretar de modo correto o hidrogênio, este se acumula no sangue provocando a acidose metabólica. Na tentativa de compensar esta acidose o organismo troca o hidrogênio com o potássio, resultando na condição.
Encontramos a hipercalemia na insuficiência renal, nas obstruções urinárias, diabetes mellitus, patologias digestivas, intoxicações, hipoadrenocorticismo, neoplasias, drenagem de efusões, acidose metabólica e respiratória, queimaduras graves, lesões musculares extensas, excesso de fluidoterapias com potássio, tricuríase e salmonelose.
Os sinais clínicos mais comuns são fraqueza, bradicardia, fibrilação ventricular e assistolia.
Atenção: pseudo hipercalemia
Podemos encontrar uma falsa hipercalemia nas seguintes circunstâncias:
– Hemólise de amostras de cães da raça Akita: esta raça porta uma grande concentração de potássio intra eritrocitário. A hemólise da amostra e a medição posterior a isto pode levar a um resultado falso de hipercalemia. Devemos evitar a estocagem prolongada de amostras sanguíneas de cães dessa raça;
– Tipo de amostra: o soro tem uma concentração maior de potássio do que o plasma devido à sua liberação pelas plaquetas durante o processo de coagulação. Procure sempre a referência adequada para a amostra utilizada.