Houve um tempo em que a associação “coceira é igual a pulgas” era imediata. Hoje em dia, porém, a dermatite atópica já se mostra como uma forte candidata para este diagnóstico.
Responsável por um grave comprometimento da qualidade de vida do animal (visto que pode causar alopecia, otite de repetição, e descamação da pele, dentre outros), a doença não tem cura e merece total atenção para o seu tratamento.
Por esta razão conversamos com a Dra. Fernanda de Knegt, veterinária com pós graduações nas áreas de dermatologia e microbiologia aplicada, que contribuiu enormemente com a nossa compreensão sobre a doença. O resultado disso está compilado a seguir:
Conhecendo a dermatite atópica
Primeiramente devemos compreender que a dermatite atópica é uma condição genética que leva à desorganização da barreira cutânea e a uma intolerância imunológica a alérgenos ambientais.
Via de regra, as células epiteliais ficam bem próximas umas das outras formando uma camada uniforme que protege a pele do animal contra a entrada de agentes irritantes e infecciosos, além de impedir a saída de água e lipídeos.
No cão com dermatite atópica, a barreira cutânea fica com “buracos” que atrapalham esse mecanismo de proteção e de preservação da hidratação natural da pele, como no modelo da própria professora:
Além disso, esses animais têm predisposição imunológica à inflamação da pele de maneira exagerada, mesmo com quantidades mínimas de alérgenos. Ou seja: eles têm uma reação de hipersensibilidade a determinados irritantes.
A depender da sensibilidade que determinado animal tem por um determinado alérgeno, pode ou não haver sazonalidade na manifestação dessa síndrome. Pode ser, por exemplo, que o paciente tenha seus períodos mais críticos no período de chuva e não apresentá-los nas épocas mais secas do ano e vice-versa.
Os alérgenos que mais causam problemas para cães (pelo menos ao considerarmos os naturais) são os ácaros domésticos, fungos ambientais, pólens e gramíneas. Vale lembrar que um mesmo animal pode apresentar hipersensibilidade a mais de um alérgeno, então devemos ficar de olho!
Principais sinais clínicos
Os principais sinais clínicos são coceira por todo o corpo, lambedura de patas, infecções de pele e ouvido frequentes e a necessidade que o animal sente de se esfregar em sofás e tapetes o tempo todo.
As principais alterações na pele são: vermelhidão por todo o corpo (principalmente entre os dedos), pavilhão auricular, flexura antecubital, axilas e abdome. Também pode ser que apareçam formações similares a espinhas, bolinhas ou casquinhas por todo o corpo, como consequência de infecções bacterianas oportunistas. Em alguns casos, há edema das patas e escurecimento de algumas regiões da pele.
Incidência e fatores predisponentes
Embora não haja números definitivos, é muito mais comum em cães. Os cães mais acometidos são os de pequeno porte, raça pura e que vivem dentro de casa.
Assim sendo, raças como Bulldog Francês, Shih-Tzu, Maltês, Schnauzer, West Highland White Terrier apresentam dermatite atópica com frequência. Não há predisposição sexual e os sinais começam geralmente antes de um ano, mas podem aparecer mais tarde também.
Diagnosticando a dermatite atópica
O diagnóstico da dermatite atópica é clínico e é feito após serem descartadas causas parasitárias (como sarnas, pulgas e carrapatos), alergia a picada de pulga, dermatite atópica induzida por alimento, micoses, disqueratoses e endocrinopatias. Assim, exame de raspado de pele, citologia, cultura fúngica, testes hormonais e com dieta de exclusão podem ser necessários.
Tratamento e Cura
Dermatite atópica não tem cura, mas tem tratamento e controle. Este consiste principalmente no combate a essas piodermites e na reconstituição da integridade da barreira cutânea ao mantermos a pele hidratada.
Outros tratamentos como o uso de corticóides, imunomoduladores, terapia alérgeno-específica e manejo ambiental também podem ser empregados. Finalmente, o sucesso do tratamento varia muito com o grau de severidade do quadro alérgico e depende muito da não interrupção do manejo pelo tutor.
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